Romanos 9.1-11.36: A Justiça de Deus e Israel
A fidelidade promove relacionamentos corretos. A justiça de Deus inclui Sua fidelidade. O Antigo Testamento é testemunha do Evangelho. Deus prometeu salvação a Abraão e seus descendentes. Todavia, os israelitas não a aceitaram. Deus, então, não é fiel?
A. O Lamento de Paulo por Israel (9.1-5)
Os israelitas têm muitos privilégios espirituais. Todavia, eles não aceitaram a salvação que foi proporcionada através deles. Paulo tem grande tristeza e desejo por sua salvação.
B. A Soberania de Deus (9.6-29)
Os israelitas ainda não receberam a salvação que Deus prometeu a Abraão e a todos os seus descendentes. Parece que a promessa de Deus falhou. Mas este não é o caso. Nem todos os descendentes de Abraão são os herdeiros da promessa. Seus herdeiros recebem a salvação (11.1-10). Como, então, determinamos quem são seus herdeiros? Deus é soberano. Ele decide que tipo de pessoas são os herdeiros de Abraão. Paulo apela ao Antigo Testamento para demonstrar isto. Esta seção tem sido interpretada equivocadamente para significar que Deus arbitrariamente determina o destino das pessoas, a despeito de suas ações e comportamento (Murray, 2.20, 24). O desenvolvimento do pensamento de Paulo e o contexto das citações e alusões ao Antigo Testamento demonstram o contrário.
A soberania de Deus, enfatizada nesta seção, pode ser entendida de duas formas diferentes. (1) Deus arbitrariamente decide quem são e quem não são os herdeiros de Abraão. Os judeus perdidos não são salvos porque Deus arbitrariamente decide que eles não são os herdeiros de Abraão. Neste caso, eles não são responsáveis, visto que não podem fazer nada quanto a isso. (2) Deus é livre para estabelecer a condição para alguém ter direito à herança, e dessa forma determinar que tipo de pessoas serão os herdeiros de Abraão (Wesley, Notes, 388). Os judeus não são salvos porque não cumprem a condição de Deus. Portanto, eles são responsáveis por sua condição e são culpados.
Se a primeira interpretação fosse verdadeira, as citações de Oseias e Isaías em 9.25-29 seriam fúteis. Por que Deus primeiramente os rejeitaria para mais tarde mudar de ideia e aceitá-los? Toda a seção seguinte a 9.30 indica e 11.20-23 explicitamente afirma que esses judeus não são salvos precisamente pela sua incredulidade, não por uma decisão arbitrária de Deus para deixá-los de fora. Se não permanecerem na sua incredulidade, eles também serão salvos. Isto certamente contradiz a primeira e apoia a segunda interpretação. A afirmação em 10.21 que Deus estendeusuas mãos a um povo rebelde (Israel) tem o mesmo efeito. Por isso a tristeza de Paulo pelos israelitas (9.1-5). Tudo isto leva a esta conclusão: a soberania de Deus consiste em sua liberdade para estabelecer a condição da salvação, não em sua disposição arbitrária de alguns para salvação e outros para a condenação.
No Antigo Testamento, nem todos os descendentes de Isaque são os herdeiros de Abraão. Mesmo antes de Jacó e Esaú terem nascido, Deus já tinha estabelecido a condição de quem teria direito à herança. Deus não esperou até que eles nascessem para então escolher uma condição favorável a Jacó (vv. 10-13). Deus proclamou diante de Moisés, “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (cf. Êx 33.19). O significado, novamente, é que eu decido o tipo de pessoas a quem eu mostrarei misericórdia (cf. Êx 32.33). Deus mostrou misericórdia a Moisés porque, enquanto os israelitas adoraram ídolos, Moisés não adorou (Êx 32.1-33.23). Deus mostra misericórdia àqueles que são fieis (vv. 14-15) e endurece o coração daqueles que fazem oposição a ele. Em Êx 5.1-12.51 Faraó primeiramente endureceu seu próprio coração. Somente depois é que Deus endureceu o coração de Faraó (vv. 16-18).
O oleiro tem poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra (v. 21). Esta é uma alusão a Jr 18.5-12. O verdadeiro significado é claramente explicado em Jr 18.6-10:
“Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir, se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. No momento em que falar de uma nação e de um reino, para edificar e para plantar, se fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha falado que lhe faria.”
A soberania do oleiro sobre o barro significa que o Senhor é completamente livre para impor as condições sob as quais ele irá abençoar ou punir. Não é sua decisão arbitrária enviar alguns para a salvação e outros para a perdição (vv. 19-21).
Esta verdade é ilustrada nos vv. 22-29. Originalmente os gentios não eram o povo de Deus, mas ele os aceitará como seu pela sua fé. Os israelitas eram o povo de Deus, mas pela sua incredulidade eles serão julgados.
C. A Incredulidade de Israel (9.30-10.21)
Israel perseguiu a lei da justiça, mas não a alcançou (v. 31). É chamada lei da justiça porque ela mostrava aos israelitas como manter o correto relacionamento com Deus que previamente lhes foi concedido. Por que eles não a alcançaram? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. A frase “como que” indica seu equívoco. Eles observavam a lei a fim de colocar Deus sob obrigação a eles. Insistindo fazer de seu próprio jeito, eles tropeçaram em Cristo.
Em 10.1-21 Paulo explica a afirmação resumida em 9.30-33. O zelo de Israel não foi com entendimento. Eles não conheceram a forma de Deus conceder o bom status de um correto relacionamento com ele. Eles buscaram atingi-lo de seu próprio modo e não se sujeitaram ao modo de Deus (10.2-3). Paulo explica isto no v. 4. Cristo é o objetivo, a intenção e o real significado (telos, NVI, fim) da lei. Visto que a lei aponta para Cristo, a justiça está disponível a todos que creem nele.
Em 10.5-13 Paulo explica o v. 4. A lei diz, “O homem que fizer estas coisas viverá por elas” (10.5; cf. Lv 18.5). Cristo cumpriu a lei e mereceu o status de justiça e vida eterna para si e para aqueles que crerão nele (vv. 6-13). Os vv. 6-13 demonstram que o Evangelho da justiça pela fé está incluída na lei. A citação, “Não digas em teu coração” (v. 6), é de Dt 8.17 e 9.4, que alerta contra a jactância presunçosa em sua própria realização e mérito, e exorta confiança no Senhor. Isto está completamente em harmonia com a justiça pela fé.
O restante da citação em 10.6-8 é de Dt 30.12-14, que afirma que os israelitas não têm que ir ao céu ou atravessar o mar para alcançar a lei. Ela lhes foi dada. Paulo identifica esta lei com a mensagem da justiça pela fé (v. 8). Os vv. 9-10 fornecem o conteúdo desta palavra de fé. Crer e confessar o Senhor Jesus leva à salvação. Os vv. 11 e 13 citam Is 28.16 e Jl 2.32 para confirmar isto.
O restante da citação em 10.6-8 é de Dt 30.12-14, que afirma que os israelitas não têm que ir ao céu ou atravessar o mar para alcançar a lei. Ela lhes foi dada. Paulo identifica esta lei com a mensagem da justiça pela fé (v. 8). Os vv. 9-10 fornecem o conteúdo desta palavra de fé. Crer e confessar o Senhor Jesus leva à salvação. Os vv. 11 e 13 citam Is 28.16 e Jl 2.32 para confirmar isto.
Para invocar o nome do Senhor (10.13), quatro condições devem ser satisfeitas: (1) Alguém é enviado, (2) alguém prega, (3) eles ouvem e (4) creem (10.14-15a). A primeira condição foi satisfeita. Há aqueles que trazem boas novas (v. 15b). A segunda foi satisfeita. A mensagem foi proclamada através da palavra de Cristo (v. 17). A terceira foi satisfeita (v. 18b). Israel ouviu e entendeu a mensagem (vv. 19b-20). O ponto destas citações do AT é este: se os gentios, que são espiritualmente desprivilegiados, vieram a conhecer, então certamente Israel veio a conhecer a mensagem. A quarta condição não foi satisfeita. Israel não creu (v. 16). Portanto, Israel está claramente sem desculpas! O v. 21 conclui com uma citação de Is 65.2 para pronunciar a rebelião de Israel, e ao mesmo tempo emiti uma nota de esperança.
D. O Remanescente de Israel (11.1-10)
Deus não rejeitou Israel. Paulo, ele mesmo um israelita, é salvo e está comprometido com a obra de Deus. Assim como nos dias de Elias, Deus tem um remanescente fiel a ele. Israel buscou uma posição justa diante de Deus, mas eles não a obtiveram. Somente os eleitos obtêm essa justiça.
Alguns entendem os eleitos como aqueles arbitrariamente escolhidos por Deus para a salvação (Murray, 2.71-72). O restante dos israelitas é rejeitado. Esta interpretação, entretanto, contradiz 9.1-4; 10.21; e 11.20, onde Paulo explicitamente afirma a infidelidade deles como razão para a sua rejeição. O correto entendimento da eleição é este: Deus coletivamente elegeu Israel. Este foi um ato de pura graça da parte de Deus, e não baseado em obras. Entretanto, a maioria se tornou infiel e perdeu as bênçãos de Deus. Aqueles que permaneceram fieis receberam as bênçãos e se tornaram os eleitos. Os corações dos outros foram endurecidos no mesmo sentido que o coração de Faraó foi endurecido (veja comentário sobre 9.18).
E. A Salvação Futura de Israel (11.11-32)
Israel tropeçou, todavia somente temporariamente. Seu tropeço se tornou ocasião para a salvação dos gentios. E isto, por sua vez, tornará Israel invejosa e finalmente irá realizar sua salvação. O remanescente garante isto (vv. 11-16).
A oliveira representa o povo de Deus. Pela incredulidade, alguns ramos foram quebrados. Alguns judeus não são salvos. Pela fé, alguns gentios são enxertados na oliveira para receber as bênçãos da salvação. Entretanto, se os judeus não persistirem na sua incredulidade, Deus pode e irá torná-los a enxertar. Se os gentios não permanecerem na fé, Deus irá cortá-los. Deus fará isto, mas não porque ele é caprichoso. Ele estabeleceu a condição da salvação. As diferentes respostas humanas provocam diferentes ações de Deus (vv. 17-24).
Os vv. 25-32 revelam um mistério. Israel é endurecido em parte até que a plenitude dos gentios seja salva. Isto significa que haverá “uma vasta colheita entre os pagãos” (Wesley, Romanos: Notas Explicativas, 85). Depois disso haverá uma vasta coheita entre Israel. O objetivo último de Deus é com todos usar de misericórdia. Permitindo que os seres humanos executem sua liberdade e por meio de seu ato judicial (1.24, 26, 28; 11.7), Deus faz isto acontecer. Todos os seres humanos, judeus e gentios, são aprisionados em sua desobediência. Eles não podem escapar, exceto pela misericórdia de Deus, que os liberta.
F. Doxologia de Encerramento (11.33-36)
Deus usa até mesmo a rebelião humana para atingir seu propósito último de salvação. Que a sabedoria de Deus seja louvada.