sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

# REGRAS DE ESTUDOS DA BÍBLIA.(2° Parte ).


Regras de Estudo da Bíblia

2° Parte
Nesta edição, abordaremos a segunda e última parte do assunto tratado na revista anterior.
C) Conhecimento intelectual 
Na Bíblia, Deus usa a linguagem humana para ensinar a verdade divina. A Bíblia faz menção de tudo o que é humano para que o homem possa entender melhor o que Deus quer lhe dizer. Deus é apresentado na Bíblia agindo humanamente pelas mesmas razões. Devido a isso, procure obter conhecimento intelectual sob quatro pontos de vista: 

1) Conhecimento gramatical 

A revelação divina, como já disse, está em forma escrita. Procure obter uma soma regular de conhecimentos de sua língua materna, a fim de compreender e escrever bem o que lê, ouve e fala. Dois exemplos: Na cena da crucificação de Jesus, os soldados romanos, por não conhecerem a língua aramaica falada por Jesus, não entenderam o seu brado proferido naquela língua (Mc 15.34-35). Outro exemplo é o caso da morte de 42 mil efraimitas por causa de uma má pronúncia (Jz 12.1-7). Sabemos casos notórios em nossos dias. Em Galátas 4.10, por exemplo, o apóstolo não está ordenando, mas relatando. Veja aí o modo do verbo. Por sua vez, em João 4.24, “espírito” é adjetivo, não substantivo! 

2) Conhecimento do vocabulário bíblico e seu emprego na Bíblia 
Por exemplo, o termo “justificar” na linguagem bíblica, especialmente na Epístola aos Romanos, não tem o mesmo sentido como nos dicionários comuns; vai muito além da acepção. É também o caso do duplo sentido da palavra “testamento” como usada no Novo Testamento. Também a palavra “pai”, usada apenas como ancestral como em 1Reis 15.11; Daniel 5.2,11 e Atos 7.2. Podemos citar muitos outros exemplos. A “Guarda Pretoriana”, em Filipenses 1.13. O termo vem de “pretor”, oficial de justiça do Império Romano. Era uma guarda composta de 10 mil homens. Outro exemplo: “Ásia” em Atos 19.10 e Apocalipse 1.4, era a província romana da Asia, situada na hoje chamada Ásia Menor, que tinha por capital a cidade de Éfeso. Não se tratava do atual continente asiático. Exemplos de referências e fatos históricos que o estudante da Bíblia deverá estudar: João 10.22 e Atos 21.38. E que dizer da referência histórica de Atos 17.18, quanto a epicureus e estóicos? 

3) Conhecimentos gerais 
De História Antiga e Moderna, antiguidades orientais, Geografia Bíblica, bem como Arqueologia e Cronologia. Os mais ilustres mestres das Sagradas Escrituras eram conhecedores do saber universal e contemporâneo. Moisés era versado em todas as ciências dos egípcios (At 7.22). Daniel era estadista (Dn 6.2-3,28). Paulo era versado inclusive em atualidades (conferir1em Atos 17.28 e Tito 1.12, onde ele cita autores seculares). 

O crente deve ser atualizado com os acontecimentos, não para se exibir, mas para estar a par do que se passa no mundo, uma vez que grande parte da Bíblia se ocupa da predição de acontecimentos mundiais, cujo cumprimento estamos vendo desfilar perante nós, noticiados pelos mais diversos meios de comunicação. 

O estudante da Bíblia deve ler muito para melhorar o seu preparo e estar bem informado, ampliando e atualizando seus conhecimentos gerais. Quem lê mais, sabe mais! O primeiro versículo do Novo Testamento ocupase de livros (Mt 1.1). O antepenúltimo versículo dele também ocupa-se do Livro (Ap 22.19). 

4) Conhecimento, se possível, de línguas originais 
Por exemplo: em João 13.10, o primeiro vocábulo “lavar” é no grego louo – banho completo; o segundo vocábulo “lavar” é nipto – lavar apenas uma parte do corpo. “Limpo”, no final do citado versículo, é katharos, que significa isento de mancha. Tudo isto num só versículo! Se essas diferenças não forem consideradas, como será devidamente explicado o assunto? 

Em Mateus 28.19 ARC, o primeiro “ensinai” é matheteusate – discipular; o segundo é didascantes – instruir metodicamente.

 “Família de Estéfanas” em 1Coríntios 1.16 é oikos – membros da família; já em 16.15 do mesmo livro, “família de Estéfanas” é oikia – empregados, serviçais. O mesmo termo oikia aparece em Filipenses 4.22, traduzido por casa, significando empregados, serviçais da casa de César, o imperador. 
Em Mateus 15.37, cesto é spuris – cesto grande; já em 16.9 do mesmo livro, cesto é kophinos – cesto pequeno. É muito interessante estes dois casos, por tratar-se dos dois milagres da multiplicação dos pães e peixes por Jesus. 

Em Isaías 45.7 onde diz de Deus: “Eu faço o mal”, “mal” é ra – que é mal não no sentido pecaminoso, e sim de adversidades, dificuldades, problemas. A mesma palavra aparece em Salmos 5.4; 1Samuel 20.9; Provérbios 22.3 e 1.33. O mesmo sentido ocorre em Mateus 6.13,34. Textos sobre a regra dos meios auxiliares: Dn 9.2; 2Tm 4.13; Gl 6.11; Ap 1.3,11. 

9) A regra do bom senso ou da razão 

É o uso da razão, da cabeça. A Bíblia foi-nos dada por Deus, não só para ocupar o nosso coração, mas também o nosso raciocínio (Hb 8.10). O bom senso tem muito efeito no estudo bíblico, especialmente na linguagem figurada, tão abundante nas Escrituras. Encontrando textos difíceis, é preciso usar o bom senso, pois a analogia geral das Escrituras é um fato. Não há lugar para contra-sensos. Ao encontrarmos um texto difícil, apresentando discrepância, não pensemos logo que há erro. Na Bíblia, as dificuldades são do lado humano, como tradução mal feita, falhas gráficas, falsa interpretação, má compreensão. A analogia geral da Bíblia tem que ser mantida. Exemplos: Is 45.7 e Mt 23.35 com 2Cr 24.20; 1Sm 16.14 e Js 24.19; 2Cr 6.1 com 1Jo 1.5 etc. Textos sobre a regra do bom senso: Hb 5.14; Mt 16.3 e 1Jo 5.20. 

10) A regra do texto 
Esta regra é tríplice. O texto bíblico deve ser considerado: 

Quanto à sua aplicação. 
Esta pode ser quanto ao povo, tempo e lugar. 

Quanto ao sentido 
O sentido pode ser literal, figurado ou simbólico. 

Quanto à sua mensagem 
Esta pode ser doutrinária, profética ou histórica. Conheça outros importantes aspectos a serem 
A exiguidade de espaço não nos permite entrar em detalhes nas divisões desta regra. Pelo exposto, vimos que no estudo do texto bíblico precisamos ver: Quem está falando através do registro sagrado; para quem está falando; em qual dispensação, tempo ou aliança está falando; para qual propósito está falando. 

11) A regra do contexto 
Contexto vem do latim contextus, que significa tecido. É o “tecido” da história, do fato etc. Desprezar o contexto é aprender errado e depois ensinar assim. É deixar a interpretação por conta do acaso! Ignorar o contexto resulta em dar vazão a preconceitos, dogmatismos e especulações sem qualquer base no ensino bíblico geral. As Escrituras, no seu conjunto total, formam uma unidade perfeita, completa. Não é jamais correto tomar um trecho qualquer e fazê-lo a base de uma doutrina. Isso conduz a conseqüências funestas, enganos e heresias. É de textos isolados que se aproveitam as seitas falsas, para adaptarem a Bíblia às suas monstruosidades doutrinárias. Com textos isolados podemos provar qualquer absurdo com a Bíblia. Por exemplo: Muitos incautos tomam Filipenses 3.8 para afirmarem que Paulo condenava aí a sabedoria, o saber natural. Porém, leia-se o contexto e ver-se-á que o caso é bem outro. O mesmo acontece em Isaías 26.14,19. Outro exemplo: Combine Mateus 27.5b com Lucas 10.37b e você verá o falso ensino do suicídio na Bíblia!

Muitos tomam 1 João 2.27 sem considerar o contexto, e ensinam que o crente que tem unção de Deus em sua vida não precisa receber qualquer ensino bíblico ou preparação para o trabalho do Senhor. Ora, a Bíblia se refere aí ao crente receber o ensino de falsos mestres, dos enganadores mencionados no v26. Em 1Timóteo 5.14, Paulo se refere a viúvas jovens, moças, e não a moças solteiras; para isso basta ler o contexto, no v11. No Salmo 42.5, o salmista refere-se diretamente ao Templo de Jerusalém. Considerando isto, o texto torna-se muito mais tocante. Há, é claro, o sentido indireto e geral. 

Há livros na Bíblia que não têm contexto definido, como Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cantares. O contexto pode ser imediato ou remoto, isto é, pode ser um versículo, um capítulo ou o livro todo. Textos sobre a regra do contexto: 2Pd 1.20 e Rm 15.4. 

12) A regra da revelação comulativa 
Revelação comulativa é o acervo de referências bíblicas tratando de um determinado assunto. É um requisito primordial para a compreensão das doutrinas bíblicas. Não se pode formar doutrinas em textos isolados, como já mostramos. O primeiro passo para tirar melhor proveito na observação desta regra é catalogar todos os textos ou referências dos assuntos. Analise em seguida cada texto. Após o estudo minucioso, distribua os textos nos sub-tópicos do assunto escolhido. Uma boa concordância bíblica presta grande serviço aqui, bem como a memória individual sob a iluminação e inspiração do Espírito Santo. O índice analítico de assuntos é também valioso. Apontamentos bem organizados também prestarão um bom serviço. É claro que a oração, meditação e dependência de Deus deverão ocupar o primeiro lugar em tudo isso. 
Considerando esta regra, há dois tipos de referências bíblicas: as reais e verbais. A referência verbal é um paralelismo de palavras; a real, um paralelismo de pensamentos e idéias. Texto sobre a regra da revelação comulativa: Sl 36.9. 

13) A regra do tema central 
A Bíblia inteira é a história do Senhor Jesus Cristo. O Antigo Testamento pode ser resumido numa frase: Jesus virá (Tratando do seu primeiro advento, é óbvio). O Novo Testamento pode também ser resumido numa outra frase: Jesus já veio. 

No Antigo Testamento, lá está Ele nos tipos, símbolos e profecias. No Novo Testamento, nós o temos em realidade. Portanto, Cristo é a chave que abre cada escritura. É preciso ler toda a Bíblia com isto em mira. Em Gênesis, Ele aparece como o Redentor Prometido, nascendo de uma mulher (Gn 3.15). Em Êxodo, Ele é o Cordeiro Pascoal (Ex 12.1-13). Em Levítico, Ele é o Sacrifício Perfeito (caps. 1-7). Em Números, Ele é a Rocha Ferida (Nm 20.2-11). Em Deuteronômio, Ele é o Profeta Vindouro (Dt 18.18-19). Em Josué, Ele é o Vencedor. Em Juízes, é o Defensor do seu povo. Em Rute, o nosso Parente Chegado, e assim por diante. Textos sobre a regra do tema central: Lc 24.44 e Ap 22.16b. 

Que o estudo sistemático da Bíblia seja uma realidade na vida de cada um dos leitores, ou antes, na vida de cada filho de Deus. 

Pastor Antonio Gilberto
Ministro do Evangelho, Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD. Formado em Psicologia, Teologia, Pedagogia e Letras, autor de vários livros; editor da Bíblia de Estudo Pentecostal em português, sucesso em todo o Brasil; fundador e primeiro

coordenador do CAPED, de 1974 a 1989, e com um ministério que vai além das fronteiras nacionais, ele é indiscutivelmente uma das maiores personalidades da literatura evangélica nacional. Recentemente, atendendo a um convite da Convenção Geral da AD nos Estados Unidos, foi empossado membro da Junta Diretora e hoje é consultor da Global University em Springfield, Missouri EUA.

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