A vida em Cuba: falta de produtos básicos, salários miseráveis, casas apodrecendo — e vigilância
constante sobre as pessoas
Em Havana, os cidadãos cubanos são observados por câmeras a todo
momento para que não façam nada que possa melhorar suas condições de
vida. Boa parte das casas está em decomposição, caindo aos pedaços
(Foto: Mises.org.br)
RELATOS DE UMA VIAGEM A CUBA
Artigo de Paulo Moura*
Em 1924, Trotsky e Stalin divergiram sobre os destinos da Revolução Russa. Trotsky defendia a necessidade de implantar o socialismo em todo o mundo. Stalin
defendia a viabilidade do socialismo num só país.
A Rússia vivia as dificuldades dos primeiros anos da revolução. Para estimular a economia, Lenin defendeu “dar um passo atrás para, depois, dar dois passos à
frente”. A Nova Política Econômica (NEP) restabeleceu a livre inciativa e a pequena propriedade para estimular o crescimento da economia para, depois, “avançar”
com a estatização total.
Com o fim da URSS, que importava açúcar a preços superiores aos de mercado (hoje, Cuba importa açúcar), os cubanos enfrentaram tempos difíceis. O regime
rendeu-se à “NEP” de forma envergonhada. Por isso, a escassez reina. Charutos, rum e turismo é o que Cuba vende. E agora, acabou-se o petróleo venezuelano
grátis. A esperança vem dos EUA.
O Estado emprega 7 milhões de “oficiales” num país de 11 milhões de habitantes. Mesmo nas empresas mistas (51% do governo e 49% do investidor), os
funcionários são públicos. O salário, em pesos, dura uma semana para compras nos armazéns do Estado.
Um cubano precisa de vinte e cinco pesos para comprar um CUC (peso conversível equivalente ao Euro). Os trabalhadores do tabaco recebem parte do salário em
folhas de fumo. Fabricam charutos piratas para vender aos turistas alegando serem produto de cooperativas. Agricultores e pescadores desviam produtos para
vender em CUCs no mercado paralelo.
Uma obra exequível em um ano de trabalho consome até cinco anos sob essas condições. Todos fazem corpo mole e precisam sair às ruas a partir das 14h para
trabalhos autônomos pagos em CUCs, caso contrário falta o que comer. Quem não consegue passa fome e pede comida, roupas e sabonete aos turistas.
Os serviços aos turistas são os mais rentáveis. Ao sair dos hotéis, você é abordado por pessoas que indicam restaurantes. Esse serviço é pago em comida pelos
donos dos “paladares” (restaurantes familiares, antes clandestinos e agora legalizados). O nome tem origem numa novela, na qual o personagem de Regina Duarte
tinha um restaurante chamado “Paladar”.
Os táxis são “ótimo” negócio. Há táxis “rentados” ao Estado e táxis privados. Quem arrenda o carro paga vinte e sete CUCs por dia ao governo. Mas o governo
proíbe o taxista privado de fazer ponto. Se for flagrado (há câmeras por toda Havana) “parqueado” em frente aos hotéis, o taxista paga quinhentos CUCs de multa.
“Esses caras dão um passo adiante e dois para trás”, ironizou nosso taxista, lembrando Lenin.
O governo cobra dez por cento ao ano de imposto desses capitalistas. Não há taxímetro ou caixa registradora nos restaurantes, pequenos mercados, bancas de
artesanato ou salões de beleza. O leão socialista define uma média do que imagina ser o faturamento do pagador de impostos. Se for “subdeclarante”, o
empreendedor cubano conhecerá suas garras. Todos pagam um pouco mais do que a média oficial.
Não se veem cubanos obesos em Havana. O povo está acostumado a comer pouco e a passar muitas horas sem comer. Pagamos almoço a um taxista. Arroz, feijão,
salada; peixe, frango ou porco e um refrigerante. Carne de vaca não há. Um legítimo PF por quinze CUCs. “Com essa refeição posso passar três dias sem almoçar”,
disse ele.
Nos resorts de Varadero há cubanos “bem nutridos”. Os funcionários fazem as refeições nos hotéis. Maquiagem, roupas e calçados de melhor qualidade doados
pelos turistas fazem a diferença visual entre cubanos de Havana e Varadero. Cubanos de Havana não podem se mudar para Varadero para comer e vestir melhor. O
governo não deixa. Somente moradores próximos podem trabalhar nos hotéis.
O povo cubano vive amontoado em casas em decomposição. Três gerações sob o mesmo teto. Caminhões pipa abastecem suas caixas d’água. Água também é
produto escasso.
Os táxis são inacessíveis para quem não ganha em CUCs. Os cubanos vivem na rua e nas praças e só vão para casa dormir. Caminham muito pela cidade pois o
transporte coletivo é precário, escasso e lotado. Em Havana, são ônibus velhos. Fora de Havana, o transporte faz-se em caçambas de caminhões com bancos de
madeira e cobertos com lona.
*Paulo Moura, professor universitário, é cientista social, consultor de comunicação e marketing político em campanhas eleitorais e analista político e de
pesquisas de opinião e de mercado
constante sobre as pessoas
Em Havana, os cidadãos cubanos são observados por câmeras a todo
momento para que não façam nada que possa melhorar suas condições de
vida. Boa parte das casas está em decomposição, caindo aos pedaços
(Foto: Mises.org.br)
RELATOS DE UMA VIAGEM A CUBA
Artigo de Paulo Moura*
Em 1924, Trotsky e Stalin divergiram sobre os destinos da Revolução Russa. Trotsky defendia a necessidade de implantar o socialismo em todo o mundo. Stalin
defendia a viabilidade do socialismo num só país.
A Rússia vivia as dificuldades dos primeiros anos da revolução. Para estimular a economia, Lenin defendeu “dar um passo atrás para, depois, dar dois passos à
frente”. A Nova Política Econômica (NEP) restabeleceu a livre inciativa e a pequena propriedade para estimular o crescimento da economia para, depois, “avançar”
com a estatização total.
Com o fim da URSS, que importava açúcar a preços superiores aos de mercado (hoje, Cuba importa açúcar), os cubanos enfrentaram tempos difíceis. O regime
rendeu-se à “NEP” de forma envergonhada. Por isso, a escassez reina. Charutos, rum e turismo é o que Cuba vende. E agora, acabou-se o petróleo venezuelano
grátis. A esperança vem dos EUA.
O Estado emprega 7 milhões de “oficiales” num país de 11 milhões de habitantes. Mesmo nas empresas mistas (51% do governo e 49% do investidor), os
funcionários são públicos. O salário, em pesos, dura uma semana para compras nos armazéns do Estado.
Um cubano precisa de vinte e cinco pesos para comprar um CUC (peso conversível equivalente ao Euro). Os trabalhadores do tabaco recebem parte do salário em
folhas de fumo. Fabricam charutos piratas para vender aos turistas alegando serem produto de cooperativas. Agricultores e pescadores desviam produtos para
vender em CUCs no mercado paralelo.
Uma obra exequível em um ano de trabalho consome até cinco anos sob essas condições. Todos fazem corpo mole e precisam sair às ruas a partir das 14h para
trabalhos autônomos pagos em CUCs, caso contrário falta o que comer. Quem não consegue passa fome e pede comida, roupas e sabonete aos turistas.
Os serviços aos turistas são os mais rentáveis. Ao sair dos hotéis, você é abordado por pessoas que indicam restaurantes. Esse serviço é pago em comida pelos
donos dos “paladares” (restaurantes familiares, antes clandestinos e agora legalizados). O nome tem origem numa novela, na qual o personagem de Regina Duarte
tinha um restaurante chamado “Paladar”.
Os táxis são “ótimo” negócio. Há táxis “rentados” ao Estado e táxis privados. Quem arrenda o carro paga vinte e sete CUCs por dia ao governo. Mas o governo
proíbe o taxista privado de fazer ponto. Se for flagrado (há câmeras por toda Havana) “parqueado” em frente aos hotéis, o taxista paga quinhentos CUCs de multa.
“Esses caras dão um passo adiante e dois para trás”, ironizou nosso taxista, lembrando Lenin.
O governo cobra dez por cento ao ano de imposto desses capitalistas. Não há taxímetro ou caixa registradora nos restaurantes, pequenos mercados, bancas de
artesanato ou salões de beleza. O leão socialista define uma média do que imagina ser o faturamento do pagador de impostos. Se for “subdeclarante”, o
empreendedor cubano conhecerá suas garras. Todos pagam um pouco mais do que a média oficial.
Não se veem cubanos obesos em Havana. O povo está acostumado a comer pouco e a passar muitas horas sem comer. Pagamos almoço a um taxista. Arroz, feijão,
salada; peixe, frango ou porco e um refrigerante. Carne de vaca não há. Um legítimo PF por quinze CUCs. “Com essa refeição posso passar três dias sem almoçar”,
disse ele.
Nos resorts de Varadero há cubanos “bem nutridos”. Os funcionários fazem as refeições nos hotéis. Maquiagem, roupas e calçados de melhor qualidade doados
pelos turistas fazem a diferença visual entre cubanos de Havana e Varadero. Cubanos de Havana não podem se mudar para Varadero para comer e vestir melhor. O
governo não deixa. Somente moradores próximos podem trabalhar nos hotéis.
O povo cubano vive amontoado em casas em decomposição. Três gerações sob o mesmo teto. Caminhões pipa abastecem suas caixas d’água. Água também é
produto escasso.
Os táxis são inacessíveis para quem não ganha em CUCs. Os cubanos vivem na rua e nas praças e só vão para casa dormir. Caminham muito pela cidade pois o
transporte coletivo é precário, escasso e lotado. Em Havana, são ônibus velhos. Fora de Havana, o transporte faz-se em caçambas de caminhões com bancos de
madeira e cobertos com lona.
*Paulo Moura, professor universitário, é cientista social, consultor de comunicação e marketing político em campanhas eleitorais e analista político e de
pesquisas de opinião e de mercado
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