Na Babilônia, Lilith era uma deusa e provavelmente os judeus a
incluíram na sua cultura durante o período em que ficaram exilados. Nos textos
babilônicos, Lilith era "a prostituta do templo de Isthar", um demônio feminino
que causava a queda dos homens através da sedução. Como deusa, Lilith estava
associada a lua, ao adultério, a morte (aborto) e a doenças sexualmente
transmissíveis.
Podemos constatar no Antigo Testamento a influência da cultura
babilônica entre o povo de Israel e suas consequências, apesar disto, não há
nenhum registro sobre a existência de Lilith na Bíblia. Lilith passou a fazer
parte do folclore judaico de forma tardia, na Idade Média. Na verdade, Lilith
passou a ganhar fama nos dias atuais devido à produção de livros de ficção,
desenhos e filmes, tornando a sua história ainda mais confusa. A história de
Lilith O primeiro registro a falar sobre a vida Lilith foi o "Alfabeto de
Ben-Sira", uma sátira judaica que contém cenas de incesto e até flatulência. O
texto humorístico do período medieval conta que Lilith teria sido a primeira
mulher do mundo, a primeira mulher de Adão. Deus teria feito Lilith antes de
Eva, do pó da terra, assim como Adão. No primeiro ato sexual, Lilith se recusou
a ficar por baixo de Adão, exigindo ser tratada da mesma forma que ele. Ambos
passam a discutir, Lilith diz o nome de Deus em vão e foge voando do jardim do
Éden. Adão orou a Deus, que enviou três anjos para resgatá-la, mas Lilith se
recusou retornar ao Éden. Castigada a ter cem abortos por dia, Lilith se torna
uma espécie de demônio do mar Vermelho. Devido à solidão de Adão, Deus cria Eva.
Esta agrada Adão causando ciúmes em Lilith, que se transforma em serpente e faz
Eva a comer do fruto proibido. Não é possível afirmar que a história de Lilith
seja verdade, por se tratar de uma ficção medieval com influências da comédia
grega.
Existem também outros textos que dizem que Lilith se tornou esposa de
Lúcifer ou Samael. A história de Lilith, é por vezes, utilizada como um símbolo
feminista no combate ao machismo. Apesar do direito das mulheres ser uma causa
justa, isto não torna a história de Lilith verdadeira. Lilith, Adão e a Bíblia
Lilith não foi a primeira mulher de Adão. Algumas pessoas alegam que o versículo
de Gênesis 1:27 que diz que "Deus criou o homem e a mulher" surge antes da
citação de Eva em Gênesis 2. Dando margem a interpretação que existiria uma
mulher antes de Eva. Outro ponto para este argumento seria a reação de Adão ao
dizer "esta sim", como se houvesse outra mulher, veja o versículo: Disse então o
homem: "Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será
chamada mulher, porque do homem foi tirada". Gênesis 2:23 No caso, trata-se de
um erro de interpretação de texto, veja como está organizado o início do livro
de Gênesis: o primeiro capítulo fala quando o homem e a mulher foram criados em
meio a tudo. Já o capítulo 2, detalha como Adão e a mulher foram criados. Não
existe "o homem e Adão", nem "a mulher e Eva", existe o homem e a mulher que se
chamavam Adão e Eva. Vale destacar que a "mulher" só passa a se chamar Eva no
capítulo 3, o que deixa ainda mais claro que só existe uma mulher. Quando Adão
diz "esta sim" está reagindo ao fato de Eva ser como ele - mesma espécie - em
forma e aparência. Outra tentativa de inserir Lilith em Gênesis, vem de uma
crença islâmica que Lilith seria a serpente que enganou Eva. Contudo, a própria
Bíblia afirma em Apocalipse 12:9 que a serpente é o Diabo: "Ele é a antiga
serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo." A única passagem
que recorre à expressão "lilith" encontra-se em Isaías 34:14 na versão hebraica.
No entanto, Isaías 34 foi escrito antes do exílio dos judeus na Babilônia, logo
não havia influência da figura de Lilith e não se tratava de um nome próprio.
Veja o versículo: "Criaturas do deserto se encontrarão com hienas, e bodes
selvagens balirão uns para os outros; ali também descansarão as criaturas
noturnas e acharão para si locais de descanso." Isaías 34:14 No texto original,
o termo "criaturas noturnas" em hebraico remete a expressão "lilith" - com letra
minúscula - que significa "noturna" ou "noite".
Trata-se de um texto simbólico,
o profeta cita a figura de animais selvagens - hienas, bodes e corujas - não de
deuses e demônios. Esta confusão é similar ao caso de Lúcifer - também escrito
em Isaías - que a tradução original significa "estrela da manhã" e a Bíblia não
faz nenhuma menção a sua existência. Da mesma forma, não podemos tratar Lilith
como um demônio feminino, se de fato, a Bíblia não fala nada sobre a sua
existência. Afirmar que Lilith é um demônio é afirmar que Lilith existe.
Desmistificando Lilith através da Bíblia Na Bíblia, Deus criou o homem e a
mulher semelhantes um ao outro, para cooperarem entre si, não para competirem.
Veja algumas referências bíblicas que desmistificam a existência de Lilith:
- A Bíblia não cita Lilith em Gênesis, tampouco a existência de uma mulher anterior a Eva.
- Em Gênesis 1:27 fala quando o homem e a mulher foram criados. Já em Gênesis 2 descreve como Adão e a "mulher" foram criados.
- A Bíblia afirma que serpente que enganou "mulher" foi o Diabo, não Lilith - Apocalipse 12:9
- A "mulher" não tinha nome. Adão a chamou de Eva depois que comeu o fruto proibido - Gênesis 3:20
- Isaías 34 cita a figura de animais selvagens, não de demônios ou pessoas.
- A tradução "criaturas noturnas" não é nome o próprio "Lilith", assim como "estrela da manhã" não é o nome próprio "Lúcifer".