sábado, 31 de maio de 2014

#QUEM É MELQUISEDEQUE?

Todos que lêem a Bíblia com freqüência já devem ter ouvido falar de Melquisedeque. Qual é, porém, a verdadeira identidade de Melquisedeque, o sumo-sacerdote do Velho Concerto?

Melquisedeque é sem dúvida um personagem misterioso da Bíblia. Ele é mencionado em somente três livros da Bíblia - dois no Velho Testamento (Gênesis e Salmos) e um no Novo Testamento (Hebreus).
O autor do livro de Hebreus diz que muita coisa sobre ele poderia ser dita, mas a interpretação seria difícil porque os ouvintes se tornaram negligentes para receber essa palavra (Hebreus 5:11 e 12)… "porque já devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite e não de sólido mantimento”.

Ainda em Hebreus 7:3 lemos a respeito de Melquisedeque… "sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida"... e "o qual recebeu o ofício do sacerdócio". Sem dúvida, esses atributos tais como "sem pai, sem mãe" ou como "sem genealogia, sem princípio de dias" caracterizam alguém com uma natureza sobrenatural.
Portanto, ao invés do que muita gente pensa, Melquisedeque não poderia ser de natureza humana, pois o texto diz que ele não tinha genealogia humana e os dias de sua existência não eram limitados Esses atributos são próprios de um ser eterno, e neste caso, de natureza divina.

O Sacerdócio Segundo a lei 
(Hebreus 7:3)… "Sem pai, sem mãe, sem descendência, não tendo nem começo nem fim de dias... o qual recebeu o ofício do sacerdócio"  (Hebreus 7:11-12)… "se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois debaixo dele o povo recebeu a lei), que necessidade haveria que outro sacerdote se levantasse segundo a ordem de Melquisedeque e não ser chamado segundo a ordem de Aarão? Pois o sacerdócio sendo mudado, também é necessária a mudança da lei". Esses textos deixam claro que Melquisedeque foi o sumo-sacerdote de um sacerdócio com bases na lei, o que no caso se aplica ao Velho Concerto, baseado no Velho Testamento. O Novo Concerto estabelecido através de Jesus Cristo refere-se ao sacerdócio perfeito, que veio suprir as incapacidades e limitações do Velho Concerto.

Similaridades entre Melquisedeque e Jesus
Há uma grande similaridade entre as características de Melquisedeque e de Jesus, o que prova que eles têm muito em comum. A seguir, estão relacionadas algumas das coisas que Jesus e Melquisedeque parecem se identificar:

. O padrão usado por DEUS é o da justiça, prevalecendo inclusive sobre a misericórdia(Êxodo 21:12-25; Levítico 24:20; Deuteronômio 19:21). Por sua vez, o nome Melquisedeque significa "rei de justiça" (Hebreus 7:2).

. Melquisedeque era rei de Salém (Hebreus 7:2), a qual para muitos estudiosos corresponde à atual cidade de Jerusalém. Por sua vez, Deus é chamado "Deus de Israel", cuja capital é a Jerusalém atual, terrena que difere da Jerusalém celestial, também chamada de "Jerusalém do alto" (1 Crônicas 17:24; Êxodo 3:16; Gálatas 4:26).

. Melquisedeque tomou dízimos do despojo tomado por Abraão e o abençoou (Hebreus7:1-6). Similarmente, Deus recebeu o dízimo dos descendentes de Abraão e abençoou o povo (2 Crônicas 31:10).

. Melquisedeque não tem começo nem fim de dias, ou em outras palavras - é eterno. Ele também não tem genealogia (Hebreus 7:3). Deus também é eterno e não tem pai, nem mãe, nem genealogia (Neemias.9:5). Esse fato caracteriza ambos como seres divinos e sobrenaturais, como os anjos.

. Melquisedeque é o sumo-sacerdote vitalício do Velho Testamento (Gênesis 14:18;Hebreus 12:22). Por sua vez, Deus foi também o mentor da base sacerdotal do Velho Testamento, o qual orientou pessoalmente todos os serviços religiosos no templo, através de regras e exigências ritualísticas criteriosas. Um detalhe curioso nessa descrição do modelo sacerdotal do Velho Testamento é que as pedras que adornavam o éfode (peitoral) do sacerdote (Êxodo 28:6 a 21) são do mesmo tipo das pedras que adornavam o anjo que era o modelo de perfeição no Éden, o qual veio posteriormente a se ensoberbecer e rebelou-se contra o Deus Altíssimo (Ezequiel 28:13).

. É difícil interpretar o papel e o caráter do personagem Melquisedeque, como lemos em Hebreus 5:11, e da mesma forma é difícil compreender o caráter e os reais intentos de DEUS, o qual ora abençoava e ora castigava segundo sua vontade.

. Melquisedeque assumiu forma humana quando apareceu a Abraão (Gênesis 14:18-20). Por sua vez, Deus,  também tomou forma humana (para ser visto e intendido, por causa da limitação do homem) quando apareceu a Abraão(Gênesis 18:1-7) e anunciou que Sara teria um filho.

Alguns teólogos entendem que Melquisedeque era o próprio Cristo no Velho Testamento e chamam esse tipo de ocorrência "Parousia" ou "Cristofania". Contudo, o fato do texto deixar claro que Melquisedeque era uma figura (tipo) de Cristo prova que ele não era o próprio Cristo.

O fato de Melquisedeque ter oferecido pão e vinho a Abraão não significam tampouco que Melquisedeque e o Filho de Deus sejam a mesma pessoa, da mesma forma como Adão não era Cristo, embora Cristo fosse chamado o "último Adão" (1 Coríntios 15:45). Além disso, em outra parte é relacionado o fato de que através de uma única ofensa (de Adão), entrou o pecado no mundo e atingiu toda a humanidade. De forma análoga, através de um único ato de justiça (de Cristo), a graça de Deus veio a ser derramada sobre todos os homens (Romanos 5:16-18).

Portanto, quando lemos que Cristo é sumo-sacerdote conforme a ordem de Melquisedeque, devemos entender essa relação como uma antítese, em que o reprovável e falível veio a ser substituído pelo aprovado e irrepreensível.

Melquisedeque é o sumo-sacerdote do Velho Testamento (ou do Velho Concerto), o qual se tornou obsoleto por causa da natureza caída do homem, como diz Hebreus 7:18 e foi definitivamente Assumida por Cristo (2 Corintios 3:16).
Melquisedeque, rei de justiça

A relação entre a justiça (a qual é associada com o nome de Melquisedeque) e a condenação está baseada no fato de que a lei aplica tanto a justiça como a condenação. A justiça implacável, porem, não leva em consideração a misericórdia nem a compaixão, que são atributos peculiares do verdadeiro Deus e Pai.

Por todas as evidências já relacionadas, poderíamos supor que Jesus e Melquisedeque são a mesma pessoa, embora isso não esteja totalmente claro nas Escrituras. Porém, ainda que não houvessem subsídios suficientes para associarmos Jesus com Melquisedeque, uma coisa é certa - ambos parecem estar intimamente relacionados, a começar pelo nome de Melquisedeque, que significa "rei de justiça".

Em Gênesis 18:25, Deus é reconhecido pela sua justiça, porém não é a justiça que leva em consideração a misericórdia e a compaixão, a qual é um atributo peculiar e distintivo do verdadeiro Deus e Pai.

Uma coisa é certa - a índole violenta que DEUS revela em várias ocasiões no Velho Testamento ao destruir implacavelmente exércitos e cidades, combina perfeitamente com a personalidade de Melquisedeque, o qual veio ao encontro de Abraão para abençoá-lo logo após a matança dos reis inimigos (Hebreus 7:1; Gênesis 14:17-18)… "Pois esse Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, o qual encontrou Abraão retornando da matança dos reis, e o abençoou".

Portanto, aquela justiça que é atribuida ao nome de Melqueisedeque parece estar associada à justiça implacável, que não hesita em aplicar a condenação de forma radical e fulminante.TIPIFICANDO O JUÍZO FINAL

O perfeito e eterno sacerdócio de Cristo
Quanto ao aspecto sacerdotal, lemos em Hebreus 7:11-12 o seguinte: "Se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois debaixo dele o povo recebeu a lei), que necessidade haveria que outro sacerdote se levantasse segundo a ordem de Melquisedeque e não ser chamado segundo a ordem de Aarão? Pois o sacerdócio sendo mudado, também é necessária a mudança da lei".

Esse texto deixa claro que Melquisedeque foi o sumo-sacerdote de um sacerdócio terreno estabelecido pela vontade DIVINA com um propósito especifico, mas,  teve de ser mudado juntamente com a mudança da lei que o regia, e isso se aplica ao Velho Concerto. A imperfeição está no fato de que houve necessidade de ser estabelecido um novo sacerdócio perfeito e eficaz.

Isto significa que o sacerdócio do Velho Concerto foi mudado por um outro, cujo sumo-sacerdote é Jesus Cristo, o Filho de Deus, e por isso que o texto de Hebreus 7:12 diz que houve MUDANÇA de sacerdócio. Embora tendo sido executado de uma só vez, o sacerdócio de Cristo tem um alcance universal e eterno.
Melquisedeque estava incapacitado de prover salvação e redenção para quem quer que fosse, pois seu ministério era imperfeito (PELA VONTADE DE DEUS) e semelhante aos dos sacerdotes do Velho Testamento, que tinham que estar continuamente oferecendo sacrifícios por si mesmos e pelo povo. O sacerdócio levítico, assim como o sacerdócio de Melquisedeque, tinha caráter temporário e era exercido através de ministrações contínuas, com o sacrifício de animais e oferendas da alimentos (Hebreus 7:28), enquanto que o sacerdócio de Cristo é perfeito, eterno e único, realizado às custas de seu próprio sangue, como diz Hebreus 9:24 e 25.
O ofício sacerdotal iniciado por Melquisedeque não teve êxito porque era fundamentado apenas em oferendas religiosas e no sacrifício ritualístico de animais. Por causa disso, ele teve de ser substituído pelo sacerdócio de Jesus (Hebreus 7:11), o que significa que o sacerdócio do Velho Testamento deu lugar definitivamente ao sacerdócio do Novo Testamento.

Por extensão, o Velho Concerto se tornou repreensível e por isso foi rejeitado, havendo sido ABOLIDO por Cristo, como diz 2 Corintios 3:14-16. E assim, o ministério de Melquisedeque representa o ministério do Velho Testamento, o qual foi invalidado por Cristo por causa de sua FRAQUEZA e LIMITAÇÕES HUMANAS (Hebreus 7:18).
Por outro lado, o Novo Concerto foi aprovado, exaltado e glorificado, e por isso é chamado em Hebreus 7:22 de “um MELHOR concerto”. Após a ressurreição, Jesus foi constituído "autor de uma eterna salvação", como diz Hebreus 5:7-9… "Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu, e sendo consumado veio a ser a causa da ETERNA SALVAÇÃO para todos os que lhe obedecem".

O fato do sacerdócio de Jesus Cristo ter sido “segundo a ordem de Melquisedeque”, como diz Hebreus 5:6, 7:17 e 7:21, não significa que os dois ministérios estavam relacionados entre si, como se um fosse uma continuidade do outro, visto que as diferenças entre eles são muito grandes, a saber:
- o sacerdócio de Melquisedeque foi temporal enquanto que o de Cristo É eterno (Hebreus 7:25);
- no sacerdócio de Melquisedeque e de todos os sacerdotes do Velho Testamento, o sangue usado para expiação era de animais (bodes, bezerros, touros e novilhas), enquanto que o sacerdócio de Cristo foi exercido com o derramamento de seu próprio sangue (Hebreus 9:12-14);
- Cristo é ministro do santuário do VERDADEIRO tabernáculo estabelecido por Deus (Hebreus 8:2), e não do VIRTUAL, que foi exercido por Melquisedeque e por todos os sacerdotes do Velho Testamento;
- com a mudança do sacerdócio houve também o cumprimento da lei (Hebreus 7:12) e assim, todo aquele arcabouço ritualístico de religiosidade aparente, que regia o ministério do Velho Testamento, deu lugar ao ministério eficaz e autêntico de Jesus no Novo Testamento (Hebreus 8:6; 8:13; 2 Corintios 3:6).

sexta-feira, 30 de maio de 2014

# HERMENÊUTICA

É necessário que o estudante das Escrituras procure descobrir o significado do texto que está sendo estudado. Queremos saber o que o texto significa. Para descobrirmos o significado do texto, teremos que verificar os vários componentes envolvidos na Hermenêutica: o autor, o texto e o leitor.
A palavra hermenêutica significa explicar ou interpretar. Nas Escrituras é usado em quatro versículos: João 1.42; 9.7; Hebreus 7.2 e Lucas 24.27. Esse termo pode ser traduzido por explicar ou expor. O termo Hermenêutica, portanto, descreve simplesmente a prática da interpretação.

O AUTOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO 
Esse é o método mais tradicional para o estudo da Bíblia. O significado é aquele que o escritor, conscientemente, quis dizer ao produzir o texto. É importante verificar o que o autor disse em outro escrito. O que Lucas registrou em seu Evangelho poderá ser mais esclarecedor se comparado com Atos, ou registro de Lucas. Devemos levar em conta os idiomas da época: aramaico, hebraico e grego. Eles possuem um significado que não pode variar. Por outro lado, o texto está limitado ao que o autor disse exatamente? Por exemplo: lemos em Efésios 5.18: Não vos embriagueis com vinho. Alguém poderia dizer: Paulo proíbe que nos embriaguemos com vinho, mas acho que não seria errado embriagar-se com cerveja, rum, ou outra droga. Os escritos do apóstolo vão além de sua consciência, embora essas implicações não contradigam o significado original, antes fazem parte do texto e seu objetivo. Compreendemos então o mandamento paulino como um princípio, pois mesmo que o autor não esteja ciente das circunstâncias futuras, ele transmitiu exatamente a sua intenção.
O TEXTO COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO
Alguns eruditos afirmam que o significado tem autonomia semântica, sendo completamente independente do que o autor quis comunicar quando o escreveu. De acordo com esse ponto de vista, quando um determinado escrito se torna literatura, as regras normais de comunicação não mais se lhe aplicam, transformou-se em texto literário. O que o texto está realmente dizendo sobre o assunto? Analisando o relato em Marcos 4.35-41 Qual é o objetivo do texto? Informar sobre a topografia do mar da Galiléia ou o mal tempo naquela circunstância? Seu objetivo era falar sobre Jesus Cristo, Filho de Deus. O significado que Marcos queria transmitir está claro: Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (4.41). O autor queria transmitir que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Filho de Deus. Ele é o Senhor e até mesmo a natureza está sujeita a ele!
O LEITOR COMO DETERMINANTE DO SIGNIFICADO
Segundo essa perspectiva, o que determina o significado é o que o leitor compreende do texto. O leitor atualiza a interpretação do texto. Leitores distintos encontram diferentes significados, isso porque o texto lhes concede permitir essa multiplicidade. É relevante o que pensa o leitor? Isto poderia influenciar o sentido do texto? Se compreendermos que há diferença de interpretação entre um leitor crente e outro que é ateu, a resposta é sim! Contudo é necessário que o leitor esteja em condições de entender o texto. Ao verificar como as palavras são usadas nas frase, como as orações são empregadas nos parágrafos, como os parágrafos se adequam aos capítulos e como os capítulos são estruturados no texto, o leitor procurará compreender a intenção do autor. O texto, em sua íntegra, ajudará o leitor a compreender cada palavra individualmente. Assim sendo, as palavras, ou conjunto de palavras, ajudam a compreender o todo.

DEFINIÇÃO DAS REGRAS.
Uma utilização equivocada das ferramentas da Hermenêutica resultará em confusão e desvio, portanto, heresia. O que está envolvido no processo de interpretação? Que padrão terminológico o autor utilizou para dar significado ao texto? Que implicações se enquadram legitimamente no padrão por ele pretendido? Que significação atribui o leitor ao texto? Qual é o assunto do texto? Que compreensão e interpretação o leitor terá? Se as normas da linguagem devem ser respeitadas, que possibilidade significados é permitida pelas palavras de um texto? Foi reconhecido o gênero literário. As respectivas regras que o governam estão sendo obedecidas? O contexto prevê o significado dos objetos literários encontrados no texto?
SIGNIFICADO
O autor pretendia comunicar suas informações. Valeu-se, então, de um código de linguagem para transmitir sua mensagem. O significado não pode ser alterado, pois o autor, levando em consideração suas possibilidades ed interpretação, submeteu-se conscientemente às normas de linguagem com as quais o leitor está familiarizado. Da mesma maneira, os textos produzidos pelos autores das Sagradas Escrituras, movidos pelo Espírito Santo, têm implicações que abrangem o significado específico que eles, conscientemente, procuraram transmitir.
Isso é razoável, uma vez que o leitor deverá compreender a linguagem utilizada.

IMPLICAÇÕES
As implicações ultrapassam os significados originais. O autor não estaria ciente de novas circunstâncias. Apesar disso, elas se enquadram legitimamente no padrão de significado pretendido pelo autor. Em Gálatas 5.2 lemos: Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. O significado específico está bem claro. Se os cristãos da Galácia cedessem às pressões dos judeus e se submetessem à circuncisão, estariam renunciando a fé, recusando a graça de Deus em Cristo e procurando, consequentemente, estabelecer uma relação diferente com Deus, baseada em suas próprias obras.
Para os gentios da Galácia, aceitar a circuncisão equivalia renegar a Cristo! Hoje essa interpretação é ponto pacífico no seio da Igreja. Contudo, as implicações desse versículo ainda são proveitosas. No século 16, Lutero tomou as indulgências e a penitência proclamadas pela Igreja Católica como uma tentativa de estabelecer uma relação com Deus dependente das próprias obras. Embora Paulo não estivesse ciente das circunstâncias ocorridas no século 16, Lutero estava certo das implicações implícitas no significado da epístola.
No século 19 e 20, formaram-se grupos religiosos que proclamam a guarda do sábado como obrigatória para a salvação. As implicações do texto paulino são claras: não podemos misturar graça e fé com as obras da Lei. É estritamente pela fé que somos salvos – fé sem circuncisão, fé sem indulgências, fé sem penitências, fé sem guardar o sábado.
As implicações dos ensinos bíblicos ultrapassam as distâncias culturais e temporais e são luz para os problemas atuais. O mandamento olho por olho, dente por dente (Êx 21.23-25) implica em exercício da justiça. Enquanto grupos religiosos cortam a mão de uma pessoa por roubar um objeto, as Escrituras ensinam uma justiça equivalente (Êx 22.1): o objeto roubado mais uma multa. Não uma retaliação física.
SIGNIFICAÇÃO
Refere-se ao modo do leitor responder ao significado de um texto. Um cristão atribuirá significação positiva às implicações do texto naturalmente. Um descrente, pelo contrário, atribuirá significação negativa. Mesmo no corpo de discípulos cristãos, as aplicações de um mesmo texto poderá ser diferente: A Grande Comissão em Mateus 28.19,29 pode significar tornar-se um missionário em terra distante, ou um mantenedor, ou mesmo um pioneiro no próprio pais, um pastor local, ou um incentivo como professor de uma classe de Escola Dominical. Mas todas, apesar de diferentes, são respostas às implicações legítimas do significado.
O ASSUNTO DO TEXTO.
Qual é o assunto do texto a ser considerado? Em Gênesis temos a história da criação; em Juízes, a história política; Salmos, a poesia hebraica; Provérbios, a sabedoria prática; Evangelhos, a vida de Jesus.
Devemos discernir qual o objetivo específico do escritor. Em Marcos 2.1-12 temos o relato da cura de um paralítico. Diversos detalhes são agregados ao texto, transmitindo-nos informações históricas, formas de construção de casas etc. Mas o que Marcos queria enfatizar realmente? Sua ênfase é percebida em vários lugares no próprio texto: 1. A questão levantada pelos escribas sobre quem tem poder para perdoar pecados (Mc 2.7); a declaração de Jesus de que o Filho de Deus tem esse poder (Mc 2.8-10); a realização de um milagre para legitimar sua declaração (Mc 2.11), a maneira como os ouvintes reagiram diante de sua declaração e do milagre (2.12): Nunca tal vimos. Marcos demonstrou que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, não existindo na Terra ninguém semelhante, pois somente ele tem autoridade divina para curar e perdoar pecados. Outra implicação legítima dessa exposição é que Jesus é o Senhor e Salvador.
COMPREENÇÃO E INTERPRETAÇÃO
A compreensão refere-se ao entendimento correto do significado pretendido pelo autor. Já que há apenas um significado, todo aquele que o compreender terá a mesma compreensão do padrão de significado do autor. Algumas compreensões podem ser mais completas do que outras, devido à maior percepção das várias implicações envolvidas.
Como expressar essa compreensão? Há quase um número infinito de formas de expressar essa compreensão. Por exemplo: o Senhor Jesus, ao ensinar sobre a chegada do reino de Deus, valeu-se de várias parábolas. Alguns intérpretes alegam que não existe sinônimo perfeito. Ainda assim, um autor, com o propósito de evitar o desgaste de vocábulos já empregados, pode, conscientemente, desejar usar outros com o mesmo sentido. Isto porque o uso de sinônimos é previsto pelas normas da linguagem, as quais também admitem uma extensão de possíveis significados para a mesma palavra.
Há dois princípios para orientar o trabalho de tradução: palavra por palavra, ou pensamento por pensamento. A dificuldade do primeiro é que em idiomas e culturas diferentes nem sempre os vocábulos têm a mesma exatidão. O segundo princípio tem, também, suas dificuldades. Isso fica evidente quando procuramos determinar como um autor usa os mesmos termos em lugares diferentes com o mesmo significado. O valor da equivalência em tal tradução fica muito mais comprometido do que no propósito de comparar outras passagens nas quais o autor bíblico usa as mesmas palavras com o mesmo significado.

NORMAS DE LINGUAGEM
As normas da linguagem, tentam especificar a extensão de significados permitidos pelas palavras de um texto. O termo fé, por sua vez, possui ampla extensão de significados no Novo Testamento. Pode ser mera aceitação mental de um fato; em outros contextos, confiança plena; ou ainda, um conjunto de crenças. O termo fé, contudo, não pode significar algo incompatível com o contexto, como: ritual do batismo. As Testemunhas de Jeová atribuem um significado à palavra Geena que é totalmente estranha a sua natureza. Afirmam que essa palavra deve significar aniquilamento, destruição eterna, punição eterna. Onde encontramos esse termo? Leiamos Mt 5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15,33; 9.43,45,47; Lc 12.5; Tg 3.6. Algum desses versículos transmite a idéia de aniquilamento? Ou refletem um estado contínuo distante da presença de Deus? Atribuir à palavra geena um significado inadequado é um equívoco, segundo as normas de linguagem. Todo o contexto atribui à palavra geena o significado que conhecemos. Portanto, uma palavra ou frase possui uma extensão de significados. A tarefa do interprete é descobrir qual o significado pretendido pelo autor. Ao fazê-lo, estará se orientando pelas normas de expressão. Felizmente, as normas da linguagem limitam o número de possibilidades, de modo que apenas uma delas terá o significado que interessa ao autor. Por isso, o autor bíblico se manteve cuidadosamente dentro desses limites, a fim de ajudar os seus leitores a compreendera sua mensagem. O contexto é fundamental para reduzir os significados possíveis a apenas um significado específico.

RECONHECENDO O GENERO LITERÁRIO
Quais formas literárias estão sendo usadas pelo autor? Diferentes gêneros literários estão presentes na Bíblia. Obviamente, como os escritores da Bíblia tinham por finalidade compartilhar o significado do que escreviam, submeteram-se às convenções literárias de seu tempo. Se o leitor não ponderar esse fato, será impossível a compreensão do significado.
CONTEXTO
O contexto facilita a compreensão do significado pretendido pelo autor. Devemos entender o contexto literário como sendo aquilo que o autor procurou dizer com os símbolos utilizados antes e depois do texto em questão. Portanto, quando nos referimos ao contexto, aludimos ao padrão de significado compartilhado pelo autor nas palavras, orações, parágrafos e capítulos presentes no texto. Paulo (Rm 4.1-25) e Tiago (Tg 2.14-26) usam o termo fé com significados diferentes. Será problemático admitir que os dois escritos queriam dizer, um conjunto de crenças. Maior dificuldade haverá se assumirmos que Paulo está falando de uma mera aceitação do fato. E daí dizer que Tiago refere-se a uma verdadeira confiança. Todavia, está claro, pelo contexto, que Paulo se refere à verdadeira confiança (Rm 4.3,5); e Tiago à mera aceitação do fato (Tg 2.14,19).
O livro Raciocínios a base das Escrituras (TJ) procura explicar 1 Co 15.29 associando-o a dois textos remotos (Rm 6.3; e Cl 2.12). Desprezando o contexto (capítulo 15), que se refere à ressurreição e sua veracidade, não está focalizando a condição espiritual do mundo em relação a Deus, como ocorre nas outras referências. Encontramos em 1 Co 15 um credo da Igreja referente à ressurreição que Paulo está citando.

O ESPÍRITO SANTO E A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
A Bíblia, como produto da inspiração divina, é a Palavra de Deus e revela aquilo em que os cristãos crêem (regras de fé) e como eles vivem (regra de prática). Os termos infalibilidade e inerrância são freqüentemente usados para descrever a fidedignidade da Bíblia.
Tudo quanto os autores desejavam transmitir com respeito a assuntos de fé (doutrina) e prática (ética) é verdadeiro. O termo inerrância significa que tudo quanto está escrito na Bíblia (informações históricas, geográficas, científicas etc.) corresponde à verdade e não pode induzir ninguém ao erro.
Um fato determinante, ultrapassando as fronteiras do tempo, envolve aquilo que o autor, conduzido pelo Espírito, desejou transmitir em seu texto. Consideremos Isaías 11.12, onde o profeta narra que Deus recolherá os dispersos de Judá desde os quatro cantos da Terra. O que ele quis dizer com esta declaração? Teria sido: Quero que saibam que a Terra consiste em quatro cantos e Deus trará de volta o seu povo desses quatro lugares? A Terra não tem nenhum canto. Pretendia Isaías afirmar algo sobre geografia? Seu propósito era falar do futuro ajuntamento do povo de Deus de todas as partes da terra. Sua declaração portanto pode ser considerada infalível e inerrante.

REGRAS PARA INTERPRETAÇÃO
É necessário usar as diferentes regras para a interpretação dos gêneros literários presentes na Bíblia. Uma parábola, uma narrativa, uma poesia, devem ser interpretadas conforme as regras. Note alguns exemplos:

PROVÉRBIOS
São declarações sucintas que empregam geralmente linguagem metafórica para expressar uma verdade geral. Contudo, os Provérbios não são leis, nem promessas. São observações gerais extraídas de um olhar sábio e cuidadoso dos fatos do dia-a-dia.
PROFECIA
Uma das regras da literatura profética envolve as profecias de julgamento. Por exemplo: Jonas 3.4. O profeta proclama à cidade de Nínive: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. Quando os ninivitas ouviram esta mensagem, proclamaram um jejum, e vestiram-se de pano de saco, desde o maior até ao menor (Jn 3.5) e o rei decretou um período de luto e arrependimento. A falta de julgamento divino fez dele um falso profeta? A regra para esse tipo de profecia encontra-se em Jeremias 18.7,8: No momento em que eu falar contra uma nação e contra um reino, para arrancar, e para derribar, e para destruir, se a tal nação, contra a qual falar, se converter de sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. Por outro lado, encontramos sectários anunciando a volta de Cristo, marcando datas, e as mesmas sempre falhando. Não seria legítimo entendermos que uma mudança na sentença seria semelhante à mudança de direito: não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder (Atos 1.8).Os mesmos princípios de Hermenêutica devem ser observados em outros gêneros.

Fonte:  
Bíblila Apologética