No caso de Adão e Eva, foi preciso que Deus sacrificasse um animal inocente para, com sua pele, cobrir a nudez deles. A oferta de Caim, do trabalho de suas mãos, foi recusada em detrimento da oferta de fé de Abel: o sacrifício cruento de um animal inocente. Desde então assim tem sido a história da humanidade: o homem sempre tentando fazer e dar algo para Deus, sem perceber que é Deus quem faz e Deus quem dá. Ao homem resta apenas a humilde posição de beneficiário da graça divina -- e que bendita posição!
Mas o que tudo isso tem a ver com a reação dos discípulos diante de Cristo transfigurado? Veja o que Pedro diz: "Façamos três tendas...". Ele se sente na obrigação de fazer algo para Deus. "Mestre, é bom estarmos aqui", diz ele. "Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias" (Lc 9:33). Pedro não é capaz de apenas desfrutar da presença de Jesus em contemplação. Ele quer fazer algo e, o que é pior, colocar Moisés e Elias, meros servos de Deus, no mesmo nível de Jesus, o Filho eterno de Deus.
Pessoas de boas intenções gostam de homenagear os servos de Deus, mas é errado. Moisés e Elias são ocultos dos olhos dos discípulos por uma nuvem e os discípulos ficam só com Jesus. Uma voz do céu diz: "Este é o meu amado Filho; a ele ouvi" (Lc 9:35). A exaltação de homens não tem lugar nas coisas de Deus. Exaltar servos de Deus é um costume humano e nada tem a ver com as coisas de Deus. O correto é dizer como disse João Batista, quando viu a Jesus: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3:30).
O comportamento destes três discípulos nos ensina como não agir na presença do Senhor. O versículo 32 de Lucas 9 diz que "Pedro e os seus companheiros estavam dominados pelo sono; acordando subitamente, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele". Infelizmente este sono de indiferença pelas coisas celestiais é comum entre os cristãos e muitos serão surpreendidos pela vinda do Senhor, algo que nem esperavam. Há tantas atrações nesta vida que muitos acabam perdendo o interesse pelos assuntos do céu.
Paulo coloca a morte e ressurreição de Cristo como o centro de sua mensagem. No capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios ele diz: "Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei... Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Co 15:1-4).
Mas quando o tema da morte e ressurreição de Cristo não é substituído por prosperidade, saúde e felicidade, outra coisa muito mais antiga e perniciosa toma o seu lugar: a superstição e o culto à personalidade.
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